Quem já leu alguns dos artigos anteriores já tem umas bases sobre a fisiologia por detrás do desportista!
Em jeito de resumo, para alimentar os músculos precisamos de ATP, criado através da decomposição de hidratos, proteínas ou lípidos numa reação para a qual é essencial a presença de oxigénio. Isto de uma forma muito simples e resumida!
Assim, a presença de oxigénio nas nossas células musculares é essencial para que consigamos pedalar melhor e durante mais tempo. O transporte desse oxigénio é feito através dos glóbulos vermelhos a nível do sangue. Estes “recolhem” o oxigénio ao passar nos capilares alveolares a nível pulmonar e “entrega” o mesmo às células por todo o corpo.
Assim é fácil entender que até certo ponto, quanto mais glóbulos vermelhos temos em circulação, mais capacidade vamos ter de “entregar” mais oxigênio às nossas células.
É neste ponto que entra o factor que vamos falar hoje. A altitude.
A altitude
Quanto mais alto nos encontramos, menor a densidade de oxigénio presente no ar que inalamos.
Isto é claramente evidente com alturas muito mais altas às que estamos acostumados. Um bom exemplo disto mesmo é quando subimos para cima de 3.000 metros de forma mais ou menos repentina, por exemplo numa viagem, em que ficamos “doentes”, muitas vezes com vómitos, dores de cabeça, sonolência excessiva. Isto prende-se com a intolerância que o nosso corpo tem para lidar com aquela pressão atmosférica e com a rarefacção de oxigênio. Mas isto é apenas mais uma circunstância em que o nosso corpo com mais ou menos ajuda se adapta, como as milhares de pessoas que vivem em altitudes semelhantes provam.
Um destes processos de adaptação passa por um aumento na produção de glóbulos vermelhos. Estes são produzidos a nível da medula óssea, sob o comando da eritropoetina, uma hormona feita pelo rim. Assim, quando vivemos algum tempo em altitude, os nossos rins aumentam a produção de eritropoetina, que por sua vez aumenta os níveis de glóbulos vermelhos no sangue.
Isto significa maior capacidade de transporte de oxigénio para o músculo, e portanto uma vantagem quando depois descemos para altitudes menores.
É aqui que recai o interesse de muitos desportistas fazerem estágios de altitude.
Sabe-se que estes efeitos se começam a sentir a partir dos 2.500m de altura, e que todo este processo de adaptação demora várias semanas até chegar ao seu pleno.
É também com o mesmo raciocínio que alguns desportistas optam por fazer doping com eritropoetina.
Utilizando este mesmo contexto e afirmando serem capazes de criar uma atmosfera semelhante à vivida em altitude, tem aparecido várias máscaras de treino. Mas afinal estás máscaras são fiáveis? São seguras? Fazem aquilo que de facto afirmam?
Como quase tudo no desporto, não são regulamentadas por organismos de saúde ou medicação, o que faz com que não precisem nem de provas da sua eficácia nem de provas da sua segurança.
O estudo que encontrei compara 24 atletas, onde 12 utilizaram uma destas máscaras e outros 12 não. Ao fim de 6 semanas de treino de elevada intensidade a única diferença estatisticamente significativa encontrada prendia-se com a ventilação, não existindo assim uma vantagem óbvia a nível de força, VO2Max e assim de performance desportiva.
Mais um dos muitos produtos vendidos com a promessa de fazer autênticos milagres, no entanto sem grande provas onde se possam basear.
E tu? Já experimentaste fazer algum programa de treino em altura? Já utilizaste algumas destas máscaras? Partilha a tua experiência!
#RideOn!